quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Ano novo, de novo!

Ano novo, de novo.

De nova cara, sem plástica.
De nova roupa, sem esconder o corpo.
De novas intenções, sem esquecer as antigas.
De novas palavras, sem falar demais.
De novas conversas, ouvindo mais.
De nova vida, sem deixar de ser você.
De novos amores, preservando o amor.
De tudo novo, de novo.

Que seja,
leve, no entanto denso.
coloquial, no entanto íntimo;
bem humorado, no entanto sério;
moral, no entanto "não-careta";
preciso, sem ser rigoroso;
espiritual, sem ser piegas.

Que valha,
para cada dia do ano,
seja o que chega
ou o que virá.

E, como diz Drummond, ao sabor de sua “Receita de Ano Novo”:
... Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo,
eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


No plágio de Veríssimo - da série “Poesia numa hora dessas?!” -, inovada na inteligência e humor, emito a minha mensagem, não importando a ordem das letras, pois para o bom entendedor...
VOTO
Só pra fugir do clichê:
liznovo
ano fe!


Jopin

domingo, 18 de outubro de 2009

Convite



Convido-os a participar de um evento em que a Oficina de Criação Literária Cairo Trindade Literária relançará, juntamente com a Editora Contemporânea, o livro “Hiper”, uma antologia de poemas de seus alunos, do qual sou participante.

No dia 13 de março desse ano, aconteceu a festa de lançamento, mas devido a uma tempestade ocorrida naquela noite (Águas de Março), muitas pessoas ficaram impedidas de comparecer.

Surgiu agora a oportunidade de se fazer o relançamento, o que acontecerá, no dia 20 de outubro, terça feira, às 18:30, no Café do Teatro Gláucio Gil, Praça Cardeal Arcoverde, s/n°, Copacabana, ao lado da estação Metrô Arcoverde.

No evento, haverá um sarau, no qual os participantes apresentarão alguns de seus poemas e estarão disponíveis livros para aquisição pelos convidados.

Terei imensa satisfação em dividir esse momento com os companheiros que acessam a esse blog.

Um abraço
Jopin

domingo, 27 de setembro de 2009

Sempre sonhar...


Finalmente, no dia 21, após uma semana interditado devido à cirurgia da mão, comecei a assistir as aulas no curso de Letras da UERJ/FFP, campus São Gonçalo, turma do 2º semestre de 2009.
Eis que de repente, na quinta-feira, dia 24, fomos pegos de surpresa (claro que seria assim) para o trote.
Chuva fininha, tempo fechado, ninguém acreditando que seria naquele dia. E, não mais que de repente, foram chegando, disfarçando, dando a entender que a dinâmica de grupo que estava sendo conduzida para integração dos novos alunos era parte da aula e, ...tchan..tchan..tchan.. tchan!! Era o dia do trote mesmo!!!
Há coisas que não se explicam! Se faz, e nela se embute a explicação! Por que trote? Uns acham infantilidade, outros, comemoração, muitos, violência, alguns, invasão e desrespeito. É o trote, e é ele. É pegar ou largar! Uma instituição!
Não dava pra correr. Nem eu iria perder essa oportunidade rara na minha vida.
Vesti rapidamente a camisa branca recomendada para o dia, e deixei-me ser tela para os veteranos. No começo olhavam os meus cabelos grisalhos com certa “reverência” rs..., mas logo passaram e me ver como um “calouro” e me dar o tratamento “merecido” rs!
Só lamentei não estar com a câmera na bolsa, mas uma colega, (ah! as previdentes e pitonisas mulheres!) pôde fazer o registro desse momento único nas nossas vidas.
Curti de tudo. A fila do “elefantinho”, o desfile em bloco pela escola, o fazer reverência aos prédios para agradecer por estar ali, a matança de formigas “a grito” no gramado, a descida de “esquibunda” na rampa gramada, o receber todo tipo de esdrúxulas ordens dos mais antigos, o dar a cara, cabelo e o corpo a pintar, e toda uma relação de tarefas para calouros, elaborada pelos “vingativos” veteranos!
Graças à cirurgia da mão, livrei-me de fazer o “esquibunda” e ir à rua (estava chovendo) pedir dinheiro para a compra de cerveja para a comemoração ... muito justa! Mas contribui com algum dinheiro! Tive certo tratamento VIP (os 62 anos trazem alguma vantagem..rs), mas se estivesse bem da mão eu iria.
E assim aconteceu. Entre “calouros e veteranos”, todos se salvaram! Foi ótimo!
Bem, o espaço deste blog não é necessariamente para esse tipo de “reportagem”..rs.., mas os que o visitam hão de entender a minha empolgação e felicidade nesse momento de comemoração dessa vitória que quero compartilhar com todos.
Sei que chegar à universidade é apenas um começo. A estrada que se abre há que ser conquistada, desbravada e pavimentada, para que seja percorrida e sirva de caminho até onde me proponho a chegar. Quero e sei que vou chegar!!
Lacro esse momento com um poema de Mário Quintana:

DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Cairo de Assis Trindade publica conto em livro lançado na Bienal



Nessa Bienal do Livro 2009 foi lançada a proposta por uma editora - Hama – na qual se propôs a publicar um livro com 20 contos, ainda no período do evento.
Os textos foram selecionados por autores e diretores da editora, dentre aqueles entregues em seu estande pelas pessoas interessadas, até o dia 13/09/2009.
O livro Contos de Todos Nós foi editado, revisado, diagramado e impresso ainda no período da Bienal, e lançado no sábado, 19/09/2009.
Entre os textos selecionados está o do meu mestre, Cairo de Assis Trindade, com o conto “Fulana no Inferno”.

Retornando à estrada


Começo hoje a assistir às aulas no curso de Literatura/Português da UERJ, campus São Gonçalo, Faculdade de Formação de Professores_UERJ . Atrasei-me por uma semana - as aulas começaram no dia 18/9/2009 - por ter sido submetido a uma cirurgia na mão, devido a um acidente, exatamente nesse dia. Coisas do destino!
O pequeno poema reflete tudo o que sinto nesse momento.

novo começo
nova vida
easy rider
não sei onde é a chegada
só sei que estou na estrada
happy rider

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Bienal do Livro Rio 2009


Começa hoje, 10 de setembro de 2009, a Bienal do Livro Rio, um dos maiores eventos literários do país, um grande encontro que tem o livro como astro principal.
Para os leitores, é a oportunidade de se aproximarem de seus autores favoritos, além de conhecerem muitos outros. Durante onze dias de evento, no período de 10 a 20 de setembro de 2009, o Riocentro sediará a festa da cultura, da literatura e da educação.
Nos espaços dedicados às atrações, o público poderá participar de debates e bate-papos com personalidades culturais e de atividades recreativas que promovem a leitura.
Atraente e diversificada, a Bienal do Livro Rio é diversão para toda a família!
Mais informações no site Bienal do Livro Rio ou pelo telefone (21) 3035-9204 de 9h às 18h.

Nota

Em respeito aos visitantes do blog, comunico que ficarei sem postar por um período, pois vou me submeter a uma pequena cirurgia, devido a uma fratura na mão.
Até breve.
Jopin

sábado, 5 de setembro de 2009

Poema "último ato"

último ato
Jopin Pereira
4set09 19:21

quem quer um pouco de mim?
de coisas minhas do passado,
de coisas de hoje em dia,
um pouquinho do tudo,
daquilo que sempre vi,
do nada que nunca vivi,
do algo que alguém via,
do tudo que ninguém vivia;
um tudinho do pouco,
que nem mesmo eu queria.

no palco branco do silêncio
apresentou-se hoje
o meu ultimo fragmento.
sem estardalhaço,
nem sonoridade.
sem os ecos,
que costumam ocorrer
nesse momento.

um último ato,
de duração ínfima.
sem ensaio,
sem aplauso,
sem platéia.

restou apenas o
farfalhar das cortinas
se fechando.
e, para o último
e único espectador,
eu,
só restou a frase
do último ato:

“prepare-se
para o próximo espetáculo:
a tragédia do caos
ou o sofrimento da reinvenção”,
de mim mesmo.

Poema "empréstimo"

empréstimo
Jopin Pereira
05set09

não quero comprar mais nada.
por que tanto apego?
tudo o que temos é
empréstimo.

o apartamento onde moro
é um empréstimo,
até para o dono.
enquanto vive está com ele
depois muda de dono.
dono???

até o alimento!
tudo o que como,
a água que bebo,
o ar que respiro,
a luz que me lumina,
vêm a mim e
circula entre todos.

a água que bebo
reverte-se à terra
quando a virto.
imiscui-se pelos subteraneos
da polpa terrestre
não gosto de chamar de crosta
parece coisa de ferida.)
e depois evapora-se.
vira chuva cai nos rios.
canaliza.
bebe-se de novo e
está consumado
o ciclo do emprestimo.

só o amor não é assim.
consome-se.
gasta-se
dá-se
e se vai
se não o aceitam.

mas se renova
e sempre chega
de outra forma
nunca igual.
sem empréstimo;
sempre se dando!

Oficina de Criação Literária_Cairo Assis Trindade

Meu mestre e guru, Cairo Assis Trindade, chega à era do blog.
Oficina de Criação Literária que nasceu, nessa segunda-feira, 31 de Agosto de 2009.
Que bom, vê-lo abrindo esse palco, onde é ator, criador, diretor, produtor e, em que eu, como sempre, platéia e aluno, saúdo a sua entrée.
Santo Cairo “Francisco” de Assis Trindade, oro nos teus poemas.
Nada mais a dizer!

A Oficina de Criação Literária existe desde 1993. Os cursos são ministrados por Cairo de Assis Trindade, num espaço ao ar livre, em sua varanda com vista para o mar, ao lado da estação do metrô, Copacabana.

Tem como proposta incentivar a criação de textos e estimular a leitura de autores modernos e contemporâneos. A Oficina se propõe extrair histórias e poesia de dentro de cada um, dando os instrumentos necessários para o processo de desenvolvimento da escrita, e estabelecer a comunicação de experiências, sentimentos e emoções de todos, através da criação de textos, trabalhando com a memória e a imaginação. Utilizamos o conhecimento das técnicas para construção e aperfeiçoamento da escrita, buscando e desenvolvendo o estilo de cada um.

E, ao final de cada ano, editamos em livro os melhores textos produzidos por seus freqüentadores, durante o período do curso. E celebramos com um coquetel, em noite de autógrafos, o lançamento da antologia e o encontro de escritores já conhecidos no meio literário com novos escritores e grande público.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

gota vítrea


gota vítrea
Jopin Pereira

na pequena dimensão
de teu opaco invólucro
isento da coisa impura
expões tua pele vítrea
envolta em diáfana veste
protegida em doce armadura.

quanto cabe em teu âmago!
navegam ali teus tormentos,
proteges os pensamentos,
mergulhas em escondimentos,
dás de beber à solidão,
afogas falsos sentimentos.

pequena gota vítrea
pouco revela o que traz
mas a mim nada ocultas
da alma que se liquefaz.

jamais hás de se livrar
de alcançar teu destino,
ou de alguém que a receberá
mesmo sendo um sortilégio,
uma magia,
um encantamento,
uma tristeza,
sei lá...

essa que a mim se destina,
pérola vítrea que de ti brota
seja afeição ou querela,
não a deixarei ser sentença,
nem condenada a perder-se
no lenço da indiferença.

Procura-se um Zé

Replico, na íntegra,publicado originalmente no Blog doTorero o especial texto de José Roberto Torero , colunista da Folha de São Paulo que trata de uma forma, ao mesmo tempo, humorística e séria, tendo como pano de fundo o contexto do futebol, a banalização dos nomes. Podemos estender a qualquer área de nossa sociedade e o fato, provavelmente se repetirá. Não o publico, digamos, em causa própria, por me chamar José, mas por ser uma sacada genial.
Degustem!

Procura-se um Zé

José Roberto Torero
São Paulo, 01 de setembro de 2009

Outrora comuns, Josés são escassos no Brasileiro
e perdem protagonismo para nomes como William


CARO JOÃO, caríssima Maria, eu vos pergunto: Qual o nome mais comum entre os jogadores do Campeonato Brasileiro? José, certo? Errado. Totalmente errado. Os Zés hoje são uma raridade. Pelo menos no futebol.

Para ter certeza disso, fui ver como são chamados todos jogadores de todos os 20 times. São mais de 600 atletas, e entre estes encontrei apenas três zés: Zé Luís, do São Paulo, Zé Roberto, do Flamengo, e um cândido Zé, sem nenhum acompanhamento, que joga no Sport. Isso significa menos de 0,5%. Até no Esporte da Folha há mais Josés, como eu, o Geraldo Couto, o Carlos Kfouri e o Henrique Mariante.

Antigamente todo time tinha pelo menos um Zé. Ele podia vir acompanhado de outro nome, de um apelido, no diminutivo ou no aumentativo, mas toda escalação tinha um Zé. Tanto que, fazendo um pequeno esforço de memória, rapidamente consegui fazer uma seleção de Zés.

Ela começaria com o goleiro Zé Carlos, do Flamengo (com Zecão, da Portuguesa, na reserva). Na lateral direita, teríamos o Super Zé, que era o apelido de Zé Maria, do Corinthians (na reserva, os tricolores Zé Carlos e Zé Teodoro). Na zaga, Zé Eduardo, o viril zagueiro corintiano, e Zé Augusto, daquele célebre time do Bahia que tinha Sapatão, Baiaco e Beijoca. Na lateral esquerda, fiquei em dúvida entre Zé Carlos Cabeleira, do Santos, e Zeca, do Palmeiras. O meio de campo seria uma moleza: teríamos Zé Mário, do Vasco, o excelente Zé Carlos, do Cruzeiro e do Guarani, e Zé Roberto, talvez o melhor jogador da história do Coritiba. Na reserva, outros Zés, como o Elias, o do Carmo e o Renato. O ponta direita seria Zequinha, ex-Botafogo e São Paulo, o centroavante poderia ser o veloz Zé Alcino, que jogou pelo Grêmio com Paulo Nunes, e na ponta esquerda entraria Zé Sérgio, campeão paulista pelo Santos em 1984. Para técnico, há uma infinidade de opções, mas fico com Zezé Moreira, que é zé duas vezes. O árbitro? José Roberto Wright. O narrador? José Silvério, é claro.

O nome José era o símbolo do homem comum. Hoje, ironicamente, são artigos de luxo. Se Drummond escrevesse seu célebre poema por estes dias, teria que chamá-lo de "E agora, William?".

Acredito que esta escassez de zés ocorre por dois motivos. O primeiro é que as famílias de classe baixa há algum tempo vêm demonstrando uma inclinação por nomes estrangeiros. O José tornou-se um sinônimo de simplicidade, até de pobreza, e parece que querem mascarar estas coisas colocando alguns dablius no começo dos nomes e terminá-los com "son", o que sempre dá um ar americano. O segundo motivo é que os próprios jogadores tentam evitar o Zé.

Talvez acreditem que é um nome de pouco apelo mercadológico. Por exemplo, Kleberson, do Flamengo, é José Kleberson, mas preferiu ficar só com o segundo nome. E o artilheiro do Náutico chama-se José Carlos, mas preferiu trocar o José por Bala e virou Carlinhos Bala.

Enfim, atualmente ninguém aceita ser mais um José, ninguém quer ser considerado um simples Zé. Hoje em dia todo mundo é diferente. Todo mundo é William.

torero@uol.com.br

domingo, 30 de agosto de 2009

Curtos poemas de domingo

descobertas
jopin pereira
30ago09

assim, me perco por aqui.
navego num rio de esperança.
pobre e sonhador poeta
que crê nas coisas,
como se fosse uma criança.

mas não deixo de ser assim,
nesse tempo em que me descobri.
sou agora algo que
sempre fui,
mas que só agora,
assim me vi.

Curtos poemas do domingo

incertas certezas
jopin pereira
30ago09 15:58

você busca certeza em tudo
e, para o tudo certo,
só há o imprevisível.

no entanto,
acredite:
o momento é
imutável,
e o presente,
imperdível!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Poema "gota vítrea"


gota vítrea
Jopin Pereira

na pequena dimensão
de teu opaco invólucro
isento da coisa impura
expões tua pele vítrea
envolta em diáfana veste
protegida em doce armadura.

quanto cabe em teu âmago!
navegam ali teus tormentos,
proteges os pensamentos,
mergulhas em escondimentos,
dás de beber à solidão,
afogas falsos sentimentos.

pequena gota vítrea
pouco revela o que traz
mas a mim nada ocultas
da alma que se liquefaz.

jamais hás de se livrar
de alcançar teu destino,
ou de alguém que a receberá
mesmo sendo um sortilégio,
uma magia,
um encantamento,
uma tristeza,
sei lá...

essa que a mim se destina,
pérola vítrea que de ti brota
seja afeição ou querela,
não a deixarei ser sentença,
nem condenada a perder-se
no lenço da indiferença.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Reticências

reticências e ...
Jopin Pereira
17ago09 19:e ...

reticências são meias palavras,
talvez até a mais...
uma frase...
um tratado...
só quem as utiliza sabe.

elas dizem
o que queremos dizer,
sem falar;
e o que queremos ouvir,
sem se escutar.

mas, há tantos outros sinais
que falam por nós.
e, por que não?

uma vírgula,
linda,
que parece uma piscada de olhos.

um ponto e vírgula, então?
já é um avanço:
ponto sobre a vírgula.

dois pontos:
tão simplórios
na sua união,
prometendo tantas coisas à frente.
parece casamento de igreja.

presenteie-se.
doe-se com muitas exclamações.
um símbolo fálico?
aproveite!!

e uma interrogação?
o que ela lê e diz?
quanta sensualidade!
curvas,
sinuosidades.
quem as há de seguir?

tremas...
hummm!
quem treme?
adoro tremer,
e recomendo:
- trema!
seria uma ordem ouvir?
- tremam!
- tremei!!

tantos sinais,
e nem são predomínios da gramática;
são da vida.
e nem precisamos tanto
saber dela (da gramática)
para percebê-las.

sinalize
nas reticências,
em vez do ponto final.
eu entenderei!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Perfumes da manhã_rimas, verbos e lembranças

Ao escrever um poema, muitas vezes nos deparamos em ter que utilizar rimas consideradas “pobres”, mas que não estão ali apenas para buscar um simples eco de sonoridade. São fundamentais à concordância poética – se posso dizer assim - dos versos. E, por mais que as procuremos em outras categorias, a melhor forma que surge é sempre um verbo no infinitivo. É das rimas, a considerada mais fácil, por isso chamada de “rima pobre”. É o terror dos poetas!
Recorri então aos ensinamentos dos especialistas da estruturação e construção poética para buscar uma forma de apoio, socorro, seja lá o que for. Quis dar uma sustentação técnica sobre algo, às vezes inevitável, e não ficar com a consciência de estar falseando ou sendo preguiçoso (risos).
Encontrei num livro de Bráulio Tavares “Contando histórias em versos”, em que, no capítulo 8, ele aborda essa questão da rima rica e rima pobre, sobre rimar com verbos no infinitivo, de onde destaco o trecho que vem me socorrer:
...Outra rima pobre é a que usa as formas de verbo no infinitivo, terminando em ...ar, ...er, ...ir, ...or. São inevitáveis também, mas devem ser usadas com moderação. Podemos rimar dois verbos, como “andar” e “falar”, mas também podemos rimar esses verbos com substantivos (mar, lar, bar, patamar...) ou com adjetivos (solar, lunar , escolar...). Isso torna a rima um pouco mais rica porque estamos usando categorias diferentes de palavras mais distantes umas das outras. No aspecto puramente técnico ou artesanal da poesia, ganha ponto aquele que envolve uma dificuldade extra e que, quando bem realizado, dá a impressão de algo aparentemente fácil, cuja complexidade não aparece a primeira vista.
O texto que publico hoje no post, “Perfumes da manhã”, inspirado na leitura do poeta Manoel de Barros , talvez seja um – poema-crônico –, categoria em que o coloco, num paralelo com a crônica poética.
Nele, certas estrofes só têm vida quando sustentadas puramente pelo fio dessa categoria de palavra à qual se prende: o verbo no infinitivo. Escrito há algum tempo, sempre volto a ele para revisões.
Como resolver essa questão? Como considerar: coisa de principiante, dificuldade de vocabulário, licença poética, falta de informação teórica?
Sei que ainda caberão muitas revisões na sua escrita, pois um poema, assim como um bom vinho, vai amadurecendo e precisa ser cuidadosamente reposicionado nas prateleiras das caves para agregar as impurezas, a fim de facilitar a sua erradicação.
Considero esse poema em fase de pré-degustação, quando ainda passará pelo repouso nesse decanter, onde espero que sejam eliminados os resquícios indesejáveis, resultantes de sua fermentação. Nesse sentido, aproveito o blog para decantá-lo e, com a participação dos que o lerem, prepará-lo para ser degustado quando de sua completa evolução.

Perfumes da manhã
Jopin Pereira
criação:21/09/2006/10:40

para que o dia desperte,
ouso a manhã perfumar,
nas pegadas da memória,
na esteira dos aromas,
relembrando a minha história,
que a saudade vem contar.

de descobrir que o dia
pode começar com alegria,
sem ter lista de tarefas,
sem fazer nada com pressa;
manter a mente vazia,
e com vagabundagem à beça,
ter o tempo só pra passar.

na hora do dar bom-dia,
sentado à mesa da cozinha,
na esteira do viajar,
na boa conversa vadia
das recordações fugidias,
na indolência do sonhar.

toalha azul axadrezada,
canecas de toda cor,
ágata, louça ou esmaltada
aconchegando o sabor.
pratos de louça lanhados,
e alguns até colados,
que vovó insistia em ter.
o cenário preparado,
pra na hora da comida,
os perfumes receber.

começo a lista dos cheiros
que aromatizaram momentos,
e hoje perfumam lembranças,
no prazeroso reencontro,
de fatos outrora vividos;
alguns plenamente sentidos,
outros despercebidos,
mas nenhum deles perdido,
e jamais fenecerem
esquecidos,
nos arquivos do viver.

lembro do cheiro de jaca,
fruta?... tão esquisita,
com sua casca espinhenta
que até parecia acne,
mas que surpreendia
ao ser aberta.
da doce polpa macilenta,
cor de pérola,
de nácar,
que se comia com as mãos,
estripando todos bagos
e nem precisava de faca!

o aroma do cajá-manga,
cor verde-caramelado,
com suas pintinhas pretas,
caroço um tanto espinhento,
tão gostoso de cheirar;
primo-irmão da carlotinha
uma manga maneirinha,
cabia na boca inteirinha,
e vovó a alertar
pra não engolir o caroço;
– quero uma dúzia, moço!

e a fragrância do eucalipto?
- tronco esbelto e longo -
seus ramos a mesa enfeitando,
cor e cheiro de ar verde,
que nessa estrada viajando,
plantados na beira da vida,
me vejo de novo respirando.

o tempero do “cunsumê”,
assim vovó o chamava,
um caldo “não sei de que”
obrigado a tomar de manhã,
uma “mistureba” maluca,
pra não ter saúde malsã.

e coisas não tão gostosas,
que ativam a memória olfativa:
os "punzinhos" das crianças,
sem cheiro ainda, tadinhas!
e tantos a reclamar,
do irmão-bebezinho,
com seu coco abacatinho,
cheiro e cor, tão nojentinho,
que era pra eu limpar.

mas havia também sacrifício,
que ainda me arrepio
ao lembrar do cheiro do tal:
– óleo de fígado de bacalhau!
naquela sinistra embalagem,
o peixe às costas do homem,
a me olhar com rancor.
a vovó ali sorrindo,
e eu quase chorando:
– hoje não, por favor...
um risco quase fatal,
se recusasse a quimera,
era bolo na mão,
dado com colher de pau.

muitos cheiros diários,
alguns que me fazem acordar,
outros me lembram dormir,
tantos a me excitar,
e muitos, a fome me dar.

do café de manhã coando,
da rapadura ralando,
para a ele adoçar.
pipoca na panela estourando,
manteiga tão amarela,
ovos a cozinhar.
alho no fogo fritando,
cheiro de bolo assando,
o cuscuzeiro pulando,
as bananas cozinhando,
– pão, ali?
... nem pensar!

arroz doce com canela,
canjica com amendoim,
até o guaraná tinha cheiro;
tudo tem,
o tempo inteiro,
basta saber sentir.

ah, esses cheiros vão longe,
melhor é por aqui parar,
pois já ouvi dizer na tevê,
que cheiro pode engordar...

doces perfumes de vida,
com a fome a me despertar,
que a manhã trouxe falando
por memórias adormecidas,
vindo a emoção acordar.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Poema "Amor de encontros"

Amor de encontros
Jopin Pereira

não aguento mais
esse amor de encontros,
quando nada começa
e onde tudo termina.

não te sinto no cio,
desvaneces o arrepio,
e nada acontece,
nem mesmo uma prece.

a hora marcada,
a próxima parada,
o relógio em que olhas
as horas contadas,
de um tempo
nem decorrido.
ah, e esse sexo contido!

e os assuntos nossos
que nem comentamos.
nunca resolvidos,
e mal iniciados
já se esvaem esquecidos.

e há tanto a falar
do que temos guardado,
e você nessa pressa
enclausura as palavras
num medo escondido.

encerremos esses encontros.
são proclamas de morte
de um amor natimorto,
que nunca esteve pronto
e, se viveu por um tempo,
foi só dos desencontros.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Conto "Nascer de novo"

A minha dedicação a escrever com regularidade e organização, começando a aprender a aplicação das técnicas de redação voltada para textos literários, posso dizer que começou em 2004, quando fui participar uma oficina de literatura no SINPRO – Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro, conduzida pelo poeta e escritor, Cairo de Assis Trindade. Com o encerramento da oficina no SINPRO, migrei para a Oficina de Literatura Cairo Trindade .
A partir desse ponto comecei a encarar a arte de se expressar pela palavra escrita com um enfoque diferente do que me conduzi pelos anos anteriores de minha vida.
Abriu-se um mundo novo, no começo meio assustador, para quem achava que o que se escrevia era propriedade individual, egoísta e que seria para se guardar para si. Agora, eu passava a escrever para ser lido.
Bem, quero aqui, fazer apenas um preâmbulo a esse conto. Sempre escrevi textos muito longos. Acreditava que tudo deveria ser dito ao leitor. Talvez resultado da minha vida profissional na área técnica, em que se exigiam relatórios muito extensos e detalhados de tudo que se fazia. Estudar tem me mostrado que o leitor tem o direito de colocar a sua história dentro na nossa história, ao lê-la. Descobrir junto. É um parceiro, pois não existe escritor sem leitor.
Os meus textos, tanto contos quanto poemas sempre foram muito longos. As aulas, as revisões, a leitura e observação de outros estilos de escritores têm me trazido um aprendizado ao modo contemporâneo de se escrever. Temos que escrever para os leitores do nosso tempo. E, o poema de João Cabral de Melo Neto, “Catar feijão” é o meu guia.
Ainda estou muito longe de ter um texto com o qual eu me satisfaça. Mas já sorrio quando os leio, ao ver que estou evoluindo.
Esse conto, embora um pouco longo nos moldes da literatura moderna, faz parte do meu aprendizado e do exercício de domar a minha ainda prolixidade.
Tenham paciência, eu peço. Creio que a história é boa. A forma, eu aprendo aos poucos.


Nascer de novo
Jopin Pereira

– Xerxes, vem cá menino! –, ouvia a longínqua voz que insistia. – Xeeeeerxes!
Pensava: “Mas nem aqui a vó me larga, caramba! Deve tá me avisando a hora de acordar. Era a única que acertava o meu nome.”.
Acordou despertado pelos gritos do carcereiro, anunciando, desde lá do fundo da galeria, a chegada do café. Continuou pensativo, mas com uma ansiedade que há muito não lhe acontecia.
O murmúrio na cela já era crescente, desde quando os primeiros raios do sol chegaram pela janela no alto da parede, que mesmo coberta de pela cortina de jornais, ainda filtrava a forte luz.
Os companheiros das celas já batiam as canecas, latas, copos nas paredes e nas grades; um ritual para acelerar a chegada daquele morno café com leite, ralo, já adoçado, e o pãozinho com uma margarina que parecia mais a sebo. Uma borra de alguma coisa que restou do leite. E o queijo? Gosto de sabão! Bem, isso hoje vai acabar.
Por bom comportamento e já tendo cumprido parte da pena, além das recomendações e interferências da defensora, que muito se afeiçoara a ele, rapaz de boa índole que caiu ali por um acidente da vida, foi-lhe concedida liberdade condicional.
No canto do beliche, ao lado de um arremedo de travesseiro – uma almofada do time, que o primo havia trazido um dia – jazia desde a véspera a mochila esmolambada, com seu nome grafado por uma Bic da vida, como um atestado de propriedade. Abrigava naquela mochila poucas coisas, badulaques sem importância – não quer levar nenhuma lembrança dali – e o bem mais precioso, a sua lista de nomes.
Volta o olhar para o nome escrito na mochila: Xexéu, do qual ele tinha ódio mortal e, já arrumara diversas confusões, desde o tempo de escola. Lembra que um dia, na volta pra casa, confidenciou pra avó: – Vó, hoje fui na biblioteca ver o que significa o meu nome. Nome não, alcunha, agnome, alcunho, antonomásia, apelido, apodadura, apodo, cognome, cognomento, cognominação, epíteto, prosônimo, titulatura, velacho. – Que isso minino? Quanto palavreado isquisito! Parece palavrão. Olha o respeito, hein! – esbraveja a avó.
– Eu achei tudo isso num dicionário. Sabe o que significa esse ridículo apelido de Xexéu pelo qual me chamam desde a infância? É “odor desagradável em homens ou animais; bodum, catinga”, diz o dicionário. E ele vem puxado desse maldito nome de batismo: Xerxes. Apesar de que esse é melhorzinho . Diz lá, até anotei: – “rei persa, filho de Dario I, herdou o trono; guerreou contra os gregos, derrotou o exército de Leônidas, vencendo a Batalha de Termópilas; saqueou a Ática, e tomou Atenas, arrasou os santuários da Acrópole; retornou à Pérsia (onde mais tarde morreria assassinado) ; nos últimos anos de reinado dedicou-se à construção de palácios e monumentos que contribuíram para o embelezamento de Persépolis”. O cara era fogo vó! Sou de paz, eu não mereço isso, vó!
Só porque o pai, que ele só sabia ter existido e nunca viu, nem em foto – morreu num tiroteio com a polícia na boca-de-fumo – assistiu uma vez a um filme desse tempo, e ficou admirado com esse tal rei Xerxes e resolveu impingir esse nome ao garoto.
– Bem que tu se livrô de sê pió, minino – dizia a vó Tereza, – pois teu pai queira primero te chama de Ataxexo, perái, deixa eu ler. Ele até escreveu ali na parede. A-T-A-X-E-R-X-E-S – destacando cada letra, para não ter dúvidas –. É, o Tião achava esse nome muito bacana. Mas tu mãe não deixou. Ficou só Xerxes mesmo.
– E por que então inventaram de me chamar Xexéu, vó? , perguntava com tristeza.
– Ninguém conseguia falar Xerxes. Diziam que dava nó na língua – tentava explicar a vó Tereza . Então, tu virou Xexéu. E, além do mais, pobre tem mania de não chamar filho pelo nome que registra, inventa sempre um apilidinho. Tu num vê teus primos? Zezinho, Tuninho, Betinho, Lulu, Bibica, Tião, Quim; essas currutelas do nome de batismo. É mais fácil. Quem vai guardar esse nomão? E, saindo de mansinho, a avó dava um sorrisinho bem safadinho, que ele fingia não ver: – rê...rê..rê..rê.
Até no cartório, – sua mãe contava – para registrar a criança, o funcionário fez cara de riso e perguntou: – É Xerxio mesmo o nome da criança? O pai quase esgoelou o dito cujo. Ainda bem que ela levara escrito o nome num papel, para não errar, pois o próprio pai pronunciava “Xerxi”.
Em qualquer lugar onde perguntavam seu nome, sempre a mesma chateação. Nunca entendiam de primeira, e sempre a indagação era acompanhada de um sorrisinho dúbio, entre o irônico e o sacana mesmo:
– Pode repetir, por favor, senhor...desculpe...o que? Xerxo...Xerxi..? Como é que é? E, para mais maltratar, ainda ouvia muitos “– É com “xis” ou “ceagá”?”
Namorada então, era um sufoco. Chegou até a inventar outros nomes, mas elas sempre descobriam, e a gozação interrompia o namoro. Na escola, a mesma cantilena se repetia. Certo dia um colega chegou com a frase, falando alto: – Xerxes achou um chuchu chocho num tacho sujo. Aí, foi uma festa para a classe. O guri fazia aulas com um fonoaudiólogo e, naquele dia este lhe dera uma frase, um “trava-língua”, para exercitar a dicção. Acabou na secretaria, com uma suspensão de três dias, depois de socar o moleque.
Certo dia confidenciou ao amigo, o único em quem confiava ali na cela: – Sabe Bilé, vou sair daqui e trocar de nome. Foi ele que me trouxe pra cá e pra essa vida. Tu quer saber a história? Mas num conta pra ninguém, tá? Agora que tá perto de eu sair preciso falar pra alguém.
– Fica tranqüilo mano. Tu é meu. A vó Tereza é minha madrinha e tu é meu mano de fé. Bilé é da malandragem, mas pra você sou da família.
– Lembra daquele cara, o Bigorna, que tomava conta da boca próxima do meu barraco onde morava com a minha vó. Pô, mano, meu amigo de infância, criado aqui, jogando bola todo dia. De repente deu de fazer onda com meu nome. Ele sempre me sacaneava quando eu ia para o trabalho. Todo dia inventava uma gozação diferente. Talvez, porque tenha tentado me levar pra trabalhar lá no movimento e eu nunca aceitei. Não queria ter o fim do meu pai. E depois que contaram pra ele a origem do meu nome, aí piorou. Me chamava de guerreiro chocho, de rei sem coroa, etc. Eu já não suportava mais o avançar da humilhação, e tudo que ele falava virava lei por ali. Até o dia em que resolveu me chamar de Xuxa. Dizia que eu era frouxo para trabalhar ali na boca. Que deveria pintar o cabelo de louro. Que achava até que eu era bicha. Que tinha cara de “Paquito”. E a gozação se estendeu aos demais participantes da boca. Todo mundo me sacaneava, meu irmão.
– E aí, cara? Se fosse eu já tinha estourado antes, pô! Tu deu moleza muito tempo. Vai, conta esse lero logo – dizia Bilé, já impaciente.
– Minha vó me pedia para eu segurar a barra até melhorar no trabalho e mudar dali. Pra num arrumar confusão. O Bigorna não tinha nada a perder, mas eu tinha tudo, se me metesse com ele. Cara, aí, um dia eu não agüentei mais! Foi quando ele mandou pintar na minha porta o nome “Xuxa”! Arranjei um trezoitão com um pivete do morro e fiquei preparado. Assim que saí de casa naquele dia ele me zoou. Cara, fechei os olhos e apertei o gatilho com vontade; sem dó do safado. A bala atravessou o joelho e ele ficou manco pro resto da vida. Vida curta, pois não durou muito naquela lida. Soube pelo meu primo que numa batida policial vazaram com ele Eu sumi do morro por uns tempos.. A polícia me achou na casa de uma tia na Baixada. Uns caras da polícia, que tinham uma transação com ele. Dei sorte de não me apagarem. Fui preso e condenado a três anos. É isso aí a história do Xerxes que, em vez de ser rei e guerreiro, virou o presidiário Xexéu, o fedorento.
Seu desejo maior era, quando saísse dali, mudar de nome. Já haviam lhe falado que isso era possível. Demorava um pouco, mas poderia ser conseguido. A defensora que o assistia disse que iria ajudá-lo. Tinha bons conhecimentos em cartórios e tantos argumentos para isso.
Pensava todo dia em qual seria o novo nome. Fez uma lista. Iria procurar antes o significado deles. Não queria mais passar vergonha nem arranjar problemas em carregar um nome estranho. Já tinha até mandado um recado para a avó: que ela falasse com a família e com os amigos e vizinhos, que não queria mais ser chamado pelo tal nome. Nem queria repetir. Quando saísse dali teria um novo nome para uma nova vida.
Já vestido para sair, despediu-se dos companheiros. O carcereiro que veio buscá-lo fez uma revista completa, até na mochila. A defensora pública, Dra. Sonia, já o esperava na secretaria: – Oi menino, chegou o grande dia, não é?
As emoções o deixavam anestesiado. Um misto de alegria, uma certa saudade – incompreensível – daquele estranho lugar, um certo medo da nova vida, do que iria encontrar lá fora e de como seria olhado. Absorto naquelas imagens é despertado pelo chamado do rude e desinteressado funcionário, para as praxes de saída.
E, logo depois que assinou o alvará de soltura e recebeu as recomendações quanto a comportamento, restrições, punibilidades, etc., a Dra.Sonia entrega-lhe um envelope, pedindo que o abrisse. Ansioso e curioso rasga um lado, sem muito cuidado. Ela me pede calma. Uma folha de papel, única, timbrada, com um nome de cartório a se destacar. O que tem ali dentro? É uma certidão de nascimento? É mesmo, está no título, uma certidão. Uma emoção maior o faz transpirar e acelerar o coração. Ali, a minha nova certidão de nascimento! Uma sensação de alegria me invade e já prevendo o que iria encontrar naquele papel, percebo o sorriso da minha defensora. Ali está o meu novo nome: Sérgio Alberto da Silva.
Sérgio ainda traz uma vaga lembrança de Xerxes, mas a defensora convenceu-o de que seria melhor assim por estar mais próximo do antigo. As pessoas que lhe conheciam se acostumariam mais depressa e com mais facilidade. Até ele mesmo. Mas era bonito. E o Alberto daria o complemento, o respeito e segurança necessária para limpar as lembranças. Pensava: “Vou fazer questão de ser chamado pelos dois nomes: Sérgio Alberto. Dá importância. Nada de Betinho, Serginho ou outros tais. “
A defensora inaugura o novo nome: – Sérgio Alberto, vou levar você até a sua casa. Vó Tereza está ansiosa pelo neto de novo nome.
Na cabeça dizia: “O antigo ficou aqui, para sempre, junto com a história que te trouxe aqui.”
No carro ia repetindo em voz alta, num tom crescente: – Sérgio Alberto, Sérgio Alberto, Sérgio Alberto, Sérgio Alberto, Sérgio Alberto, Sérgio Alberto. Preciso repetir incessantemente, pois eu mesmo preciso me acostumar.
As lágrimas então começam a romper. Xerxes, digo Sérgio Alberto abraça-se àquele envelope. Suas novas sensações, de um novo homem, que o nome veio trazer. Inaugura ali as emoções do seu novo mundo, como se nascesse de novo.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Poema "Estação do Vento"


Olhar as árvores, penetrar no âmbito das suas folhas, concentrar-me em sua pele. Presenciar o seu tempo de vida que, do viço nascente do verde caminha até à maturidade de palha. Isso sempre me leva a viajar e ... escrever.

estação do vento
Jopin Pereira

no meio da tarde,
vou recolhendo
as folhas que passam ao vento,
e me trazem em suas ranhuras
tantas texturas,
enquanto aguardo o trem aparecer...

leio-as,
mais com a palma das mãos
que pelas frestas dos olhos,
quase em Braille,
pois são como arranhões
que chegam ao coração,
me rasgando
com a força de um grito contido,
como tudo até ali vivido,
e que só pôde ser libertado
ao ser nelas lido.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Poema Renascimento


renascimento
jopin pereira
criação: 1 de junho de 2008 14:58:14
Ingá, Niterói.
revisão: 22 de julho de 2009 11:50
Barreto, Niterói

ontem,
antes de sair para caminhar,
olho pela minha janela
de um décimo andar,
e elas me chamam a emoção.

vejo, num relance,
as breves folhinhas secas
caindo sobre os táxis,
e sobre o anônimo leito da rua,
ainda banhadas
por um raio do sol
como um manto mortuário.

hoje,
volto à janela e
até as folhinhas restantes
se foram;
a chuva da madrugada
as lavou
e levou.

ao descer,
busco por seus epitáfios
no leito pétreo
do tapete asfáltico.
não precisaram deixar nada.
me falaram antes.
quando as vi caírem,
já estava dito.

uma delas dizia:
- vivi!
- encerrei minha missão
de te fazer sentir,
ao me ver morrer,
o renascer da tua emoção.

domingo, 19 de julho de 2009

Trova, pra que te quero?

Comemorou-se ontem, 18 de julho, o Dia Nacional do Trovador. A escolha dessa data está associada a uma homenagem ao poeta Luiz Otávio, pseudônimo usado pelo dentista, Dr. Gílson de Castro, carioca nascido em 18 de julho de 1916 que, de tão dedicado a essa arte, teve a si atribuído o título de Príncipe dos Trovadores.

Devido à minha recente imersão ao universo da trova, apesar de elemento poético sempre presente em nossas vidas, procurei valer-me de informações de diversas fontes da Internet para dar corpo e validação a este post. Ao final, cito as fontes, por respeito e admiração aos autores, aos quais peço licença pela utilização e agradeço a contribuição.

Por alguns, considerada poesia menor, a trova é arte antiga, melhor diria, clássica. Tradição iniciada por volta do século XI d.C. , durante esse período as poesias passam a ser acompanhadas de músicas, o que perdurou por muito tempo, havendo inclusive remanescentes desta tradição em nossa famosa literatura de cordel, muito conhecida no nordeste brasileiro.

Os primeiros trovadores modernos surgiram no século passado na Espanha e Portugal, na esteira dos folcloristas que as recolhiam em meio ao povo. Tem sua origem na poesia trovadoresca medieval que evoluiu para o que hoje conhecemos como a trova moderna. Criação literária que mais destaque alcançou entre as formas poéticas medievais, originárias de Provença, Sul da França, expandiu-se no século XII por grande parte da Europa e floresceu por quase duzentos anos em Portugal, França e Alemanha.

De construção elaborada, parece ter sido fácil a sua feitura quando lida, tal a beleza da simplicidade que transporta. Ainda hoje, alguns homens de letras se recusam a reconhecer o valor da trova, considerando-a como consideram coisa sem valor intelectual.

Uma trova de Adelmar Tavares, advogado, professor, jurista, magistrado e poeta, nascido em Recife, em 16 de fevereiro de 1888, e falecido no Rio de Janeiro, em 20 de junho de 1963, que foi acadêmico da Academia Brasileira de Letras, quinto ocupante da Cadeira 11, reflete a importância, a grandeza e asimplicidade da trova e traz um precioso argumento contrário à essas opiniões.
Ó linda trova perfeita,
que nos dá tanto prazer,
tão fácil, - depois de feita,
tão difícil de fazer.

Que o leitor me desculpe, mas tenho que falar um pouco da técnica da trova, para mostrar que não é um simples arranjo de palavras, tão fácil como alguns julgam, mas também não tão difícil que impeça alguém de sensibilidade criar as suas. Um exemplo de simbiose perfeita entre a técnica e sensibilidade.

A trova tradicional é uma composição poética de quatro versos de sete sílabas poéticas (heptassilábico) cada. As sílabas poéticas são contadas pelo som, acompanhando a emissão natural da voz. Na contagem dos versos, o número de sílabas poéticas é contado somente até a última sílaba tônica. As restantes, após a tônica são desprezadas. Essa construção pode ser exemplificada numa trova muito conhecida, a seguir:
Eu/ vi/ mi/nha/ mãe /re/zan/do
Aos/ pés/ da / Vir/gem/ Ma/ri/a
E/ra_u/ma/ San/ta_es/cu/tan/do
O /que_ou/tra /San/ta/ di/zi/a

Quatro versos, sete sílabas poéticas e oito sílabas gramaticais (apenas o último verso contém nove)

O mais comum é encontramos trovas em que o 1º verso rima com o 3º e o 2º verso com o 4º. Em trovas mais antigas acontecem rimas do 1° verso com o 4° e do 2º verso com o 3º, além de do 1º verso com o 2º e do 3º verso com o 4º. Há ainda trovas em que se faz rima apenas do 1º verso com o 3º, mas isso não é bem visto e nem sempre aceito em concursos.

A trova, para ser bem feita, tem de ter um achado. Achado é algo diferente, uma surpresa, uma conclusão no último verso. Adelmar Tavares diz : "Nem sempre com quatro versos setissílabos, a gente consegue fazer a trova; faz quatro versos, somente". Ou seja: não é trova se não houver o achado.
Para exemplificar a presença do achado numa trova, trazemos essa inspirada composição de Durval Mendonça:
Ao beijar a tua mão,
que o destino não me deu,
tenho a estranha sensação
de estar roubando o que é meu...

Porque o Destino não lhe deu a mão da mulher amada, e a sensação de roubar algo só pode acometer quem não possui aquilo que supostamente rouba. Supostamente rouba, ao mesmo tempo em que, no íntimo, a tem como sua: roubar aquilo que é seu. Mas como pode roubar aquilo que é seu? Porque, no fundo, não é seu. E é nesta contradição que reside o achado desta trova.

Longe de mim, querer criar aqui um tratado sobre a trova. Não disponho do conhecimento necessário a essa tarefa e, a minha incursão no estudo do tema é recente. Existem textos muitos ricos, com abordagens de diversos níveis, do teórico ao popular, de trovadores e estudiosos que se dedicam a esse elemento poético, como se costuma dizer, “desde as priscas eras”. Quero apenas, com a incorporação desse resumo de informações, divulgar essa nobre arte e trazer uma mínimo de conhecimentos que permita a compreensão da sua importância e beleza, como está sendo para mim, ao homenagear os trovadores nesse seu dia.

Vamos então ao que mais interessa. Mostrar algumas das trovas que me tocam, e espero que tenham o mesmo efeito em quem as leia. Um pequeno mosaico de simplicidade, alegria, humor, picardia, inocência.
Trovas populares de autores que desconheço. Se alguém souber, peço que me informem:

Eu sou bem pequenininha
do tamanho de um botão
carrego papai no bolso
e a mamãe no coração

Atirei um cravo n'água
de teimoso foi ao fundo
os peixinhos responderam
viva dom Pedro II

Nas pernas a “cola” é escrita
e, o professor espreitando
fica feliz quando a Rita
ergue a sai e vai colando

Morreram muitas piranhas
quer motivo comprovado ?
as pobrezinha comeram
um político afogado

Século 13: da novela de cavalaria espanhola Amadis de Gaula extrai-se a primeira trova independente — sem ser refrão de cantiga — de que se tem notícia, escrita em português arcaico e de autoria do poeta da corte de Dom Diniz, João de Lobeira:
Leonoreta fin roseta
Leonorzinha, fina rosinha
bela sobre toda fror
bela acima de qualquer flor
Leonoreta nom me meta
Leonorzinha, não me ponha
em tal coita vosso amor
em tal tristeza vosso amor

1900: De autoria Antônio Correia de Oliveira,
Sino, coração da aldeia,
coração, sino da gente.
Um a sentir quando bate,
outro a bater quando sente.

Do grande Machado de Assis
Ao nosso espírito ardente,
na avidez do bem sonhado,
nunca o passado é presente,
nunca o presente é passado.

Uma do Osório Duque Estrada (autor na letra do Hino Nacional Brasileiro
O amor perturbou-me tanto,
que este combate deploro:
querendo chorar, eu canto;
querendo cantar, eu choro!

Trova humorística da autoria de A. A. de Assis :
um homem de 70 e poucos anos, grande trovador fluminense.
Amigo/amiga, reparto
este espanto com você:
o parto não é mais parto;
é download de bebê.

Páro por aqui para o post não vira poste. Espero ter despertado no leitor a curiosidade e o interêsse em conhecer essa forma interessante da expressão poética. Com a facilidade da Internet, aqueles que se motivarem poderão encontrar inúmeras páginas ricas em informação e uma antologia universal de trovas.

Encerro a homenagem fazena a tentativa de construir uma trova, a primeira de minha vida – momento histórico - contaminado que fui, pela imersão a esse mundo mágico dos trovadores.

para a trova fiz um post
no blog do jopinando
o achado ficou tão ghost
nem eu mesmo estou achando

Comentem e enviem as trovas de sua preferência. E até de sua autoria.
O espaço é livre e a trova, mais ainda.
Jopin Pereira

Fontes:
http://recantodasletras.uol.com.br/trovas/1143428
http://www.iraiverdan.com/visualizar.php?idt=1636970
http://pt.wikipedia.org/wiki/Trova
http://www.overmundo.com.br/overblog/origem-da-trova
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=14&sid=156http://www.kathleenlessa.prosaeverso.net/

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Perdidos e Achados

Na escrita do texto que publico hoje, deparo-me com um drama recorrente a quem escreve: a falta de idéias. Nem tenho certeza se é mesmo a falta; por vezes me sinto perdido é no excesso. O desafio de selecionar uma delas e discorrer sobre o tema, de olho no princípio, meio e fim. Parece aquela coisa do pescar. A dúvida em escolher e acertar a isca adequada. Ficamos ali jogando a linha na água, vendo o vizinho tirar um peixe atrás do outro e você ali, no conhecido “banho na minhoca”. Por momentos, um deserto; por outros, um oceano.
E aí, o que fazer?

Recorro às manifestações de diversos escritores respeitados sobre isso. Valho-me de um poema de Carlos Drummond de Andrade ─ Procura da Poesia ─ que me indica preciosos rumos quando estou perdido. A genialidade do mestre, sempre presente, vem me ensinar que o problema não está na falta de idéias; está em não saber procurá-las, trabalhá-las, acarinhá-las, respeita-las e amá-las. Assim, como a uma verdadeira mulher. Idéia é palavra feminina.

Destaco aqui um trecho, no qual me atrevo, com a devida vênia do mestre, a substituir ─ melhor dizer, interpretar ─ o termo “poemas” como ”textos”, de forma a atender à minha necessidade.

Assim, encontro a isca certa, mesmo que o peixe pescado não seja o que vi nadando. Foi melhor!

Procura da Poesia (excerto)
Carlos Drummond de Andrade

..... Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?.....


amor impossível
Jopin Pereira

Penso: “Para quem ama é tão difícil escrever sobre um amor impossível ou mesmo proibido. Talvez a racionalidade não tenha me permitido viajar nessas instâncias da paixão, da fantasia, e deixar que eu amasse alguém ou alguma coisa que não conseguisse obter. Ihhh... Será que tenho algum desvio ou bloqueio psíquico? Será que temo desafios? Acho melhor não caminhar nesse brejo. Posso afundar e nos perdermos, eu e o tema, levando junto o conto. Recrimino-me por ser assim, quando, no momento, tenho que escrever sobre esse tema. Preferiria ter sido educado mais irracionalmente. Creio que ainda há tempo para ser autodidata nisso.”
Assim divagava quando comecei a escrever.

Saio para a caminhada. Ao retornar, ligo para a amiga poeta: – O que você acha de eu escrever sobre uma galinha que se apaixona por um espanador? ─, num tom de brincadeira e ironia. Surpreso, ouço que ela acha boa a idéia. Mas ainda não bate em mim aquela certeza de que devo escrever sobre isso. Ficamos “bestando“ na conversa por telefone, falando sobre minha dificuldade.

E ela, querendo me ajudar, ia desfiando sugestões:
─ Lembra daquela música que fala de um grão de areia que se apaixona? Deixa eu lembrar, ─ enquanto emite uns “lálálálála” incompreensíveis. ─ Ah, lembrei um pedaço. Acho que ele se apaixona por uma estrela, né? Taí, um caso de amor impossível. É isso mesmo. Lembrei. Aí, no final, nasce a estrela do mar...Lindo!

─ Legal! – me empolgo e, rapidamente, me desengano (mais um surto de racionalidade). Mas já está escrita, não é? S eu me basear nela, vai ficar meio que um clone. Não gosto de sugar idéias alheias. E, caindo nessa linha, vou acabar escrevendo sobre a colher de pedreiro que se apaixonou por um saco de cimento e nasceu uma parede e outros “impossíveis” amores.

Mas a idéia não me abandona totalmente. Prossigo: – Taí, como você gosta de bichos, vou escrever sobre amores impossíveis entre eles. Um gato que se apaixona por uma peixinha do aquário.
Alegro-me ao pensar ter encontrado o filão.

Ela corta a minha empolgação, rindo da minha desgraça, ou da peixinha: – Ahahahaha! Aí, o gato quer é comer a peixa, né?
– Mas quem namora quer comer, ora –, brinco e emendo: – Poderia ser um peixe-gato apaixonado por uma gatinha. Um jacaré que se apaixona por uma tartaruga, ama demais, mas na hora da fome o instinto se sobrepõe e a fome vence o amor. Ela me diz que isso não é amor. Penso: “Isso não vai dar certo”.

– O que eu queria mesmo era escrever uma estória entre duas pessoas, uma história viva. Mas tudo que penso já aconteceu ou já foi escrito. Tudo bem, vou pensar sobre amores de bichos e mais tarde decido o que vou escrever. Beijos ─, e desligo o telefone.

Agora à tarde, terminando esse emaranhado de palavras sobre amores complicados (por mim) vejo surpreso, que mesmo não contando uma estória estou escrevendo algo sobre o tema. Conformo-me, mas não fico satisfeito. Será que isso vale? Deixa pra lá.

Busco uma conclusão ou uma justificativa sobre tudo isso: “Creio que gosto mesmo é de escrever poemas, pois os sinto¬. É sentimento vivido que se corporifica nas palavras. Inventar uma estória é algo que ainda me soa falso. Talvez irreal ou algo parecido. Não sei bem caracterizar. Admiro quem escreve ficção, cria personagens, faz e refaz tramas, complôs, amores possíveis, impossíveis, permitidos e proibidos. Será que isso não é fruto da minha falta de conhecimento em como desenvolver a mente para a abstração criativa? Ih...falei difícil. O que serei meu Deus? Um escritor ou um escrevinhador. Ou um cara que busca escrever sobre a dor, um “escrevedor”. Um “ajuntador” de palavras. Vejo-me sendo mais um artífice das letras que ainda está na fase dos mosaicos. Junta pedacinhos de tudo que já viu e monta seu trabalho. Acho que estou é falando um monte de bobagens. Se um literato ler isso. xiiiii! abortou-se a minha carreira de escritor.”

Concluo: “No fundo, o meu amor pela palavra, pela literatura, pela crônica, pelos contos e pelos livros é um amor verdadeiro, fiel e crescente. No entanto, mesmo sendo um assumido apaixonado pela escrita, ás vezes, escrever me parece um ato de amor impossível, como hoje. Cruz credo. Afasta de mim essa idéia. Te esconjuro.”

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Obsoletismo humano


Assistindo a TV, vejo que a novidade lançada nos salões de beleza, decorrente de um salão anual de novidades, em São Paulo, era um compressor.
Compressor? Assustei-me com a brutalidade do instrumento. Sei que um compressor serve para muita coisa, mas, para a beleza?
É, creiam! Um compressor vai substituir pincel, que já substituiu o pompom, o aplicador, na aspersão dos pós, cremes, tintas, blush e tudo mais que cobre a face das mulheres.
A apresentadora da novidade dizia que há que ter muito cuidado e habilidade, pois pode se estragar todo o trabalho com um gesto mais descuidado.
Pena! Não sabem o que se perde com o carinho de um pincel, que além de aplicar o pó, leva um pouco de afeto e carícia também, mesmo não sendo o fim especifico do ato, mas por um benéfico efeito colateral.
E o que se faz com os pincéis e tudo o mais?
Lixo...
É, pois todo mundo, para participar e ficar atualizado – upgraded – não mede sacrifícios para a novidade. Nem quem aplica, tanto o profissional quanto o cliente, o aplicado. E se você, mulher atualizada, não se submete à novidade, o que será de sua conversa com a amiga que disse estar chegando de uma “comprimida” (sessão de compressão facial) na face e não uma de maquilagem?
E com isso, os lixões se sucedem. Não há mais tempo para as coisas amadurecerem; aprenderem a ser usadas; ter a sua vida útil e aguardar brotar a nova evolução.
Mas será que tudo precisa mudar?
O guarda chuva é o mesmo até hoje. Já se fez de tudo para substituí-lo, no entanto, até as rainhas não o dispensam nos dias de chuva.
E o lixão vai crescendo..
Os raladores de legumes, os pratos redondos, o rádio que só pega AM, etc e tal...
E, nesse ambiente de cozinho, - uffaaaa - quanta coisa nova, e inútil!
E o dos computadores, informática e tudo mais: som, tv, telefones, gadgets eletrônicos?
Haja adaptação.
Agora, estou temendo que as pessoas que não evoluam como as empresas e corporações desejam, comecem a ser substituídas pelos novos “produtos-seres” ou vice-versa.
É, e isso já acontece. Tanta gente dispensada, desemprego.
E o pior é quando alcança a família, em que os obsoletos membros são jogados num asilo e/ou entregues a uma acompanhante, pois não há tempo para a família cuidar do “produto” em desuso.
Tanto a aprender, tanto a ser ensinado. Tanto a se ganhar, mas muito a se perder!
Não se esqueça! Todo mundo envelhece!
Jopin Pereira

Ensina-me

Bertold Brech
in “Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas”
Tradução de Paulo Quintela


Quando era novo, mandei fazer numa tábua
A canivete e nanquim a figura dum velho
A coçar-se no peito por causa da sarna
Mas de olhar implorativo porque esperava que o ensinassem.
Uma segunda tábua pra o outro canto do quarto,
Que devia representar um moço a ensiná-lo,
Nunca mais foi feita.

Quando era novo tinha a esperança
De encontrar um velho que se deixasse ensinar.
Quando for velho, espero
Que se encontre um moço e eu
Me deixe ensinar.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Anjos e demônios

Recentemente deparei-me com um fato íntimo que me levou a uma bifurcação de decisões.
Ah! Vida de dualidades! Espelho que reflete dois lados aparentemente iguais, mas intrinsecamente diferentes; opostos. Porém, sem elas não saberíamos viver.
Vivemos acreditando que temos as certezas de que caminhos optar quando surgem as indecisões, mas quando acontecem de verdade, trememos nas nossas crenças.
Anjos e demônios internos trazem à tona da alma as nossas fragilidades, os bons sentimentos e até as maldades que fazem parte do cadinho onde se fundem todas esses sentimentos que habitam em cada um.
Não cabe revelar o fato causador de tal reflexão, mas aqui publico o efeito sob a forma de poema, que melhor se ajusta à essência e forma de expressar a sensação do que passei.
Com o “andar da carruagem” o fato esgotou-se em si, no entanto houve um vencedor - nessa peleja não há empate -, que deixo a cada um que o leia, imaginar qual.
Ficou o poema, essa válvula de segurança da alma, que não nos deixa explodir, permitindo que, com segurança, escape um pouco da pressão interna, quando não a conseguimos controlar.
Jopin Pereira

Anjos e demônios
Jopin Pereira
19maio09, terça, 13:18

anjos e demônios
lutam dentro de mim.
gladiam-se até.

por vezes me entrego a alimentar
uns e outros:
comidas incomuns,
digestões diferentes,
resultados contrários.

sei que vai vencer
o que eu alimentar,
mas sua fome é grande.
os argumentos que trazem
para que eu defina a preferência
são sedutores,
chantagistas,
conquistadores,
mentirosos
e verdadeiros.

tenho me submetido a ambos
enquanto não decido
por qual deles
quero deixar viver.

Mas, no fundo,
quando estou longe do campo de batalha,
quando me ausento em mente,
quando me desvio dos motivos dessa luta
peço que os anjos me convençam
que é melhor optar por eles]
que aos seus rivais.

sei que vou trazer para mim,
com todas as consequências,
de ambos,
os valores
bons e maus,
daquele que eu alimentar,
e então, por isso,
percebo que
que não quero os demônios.

sei que quando faltar o alimento
eles vão comer a minha carne,
devorar a minha consciência,
arrancar meus pensamentos,
roer a sobra das minhas virtudes
e se deliciar com meus pecados,
até que, finalmente,
quando nada mais sobrar,
consumir a minha alma,
não restará
nem mesmo a lembrança
do motivo dessa luta.

* agradecimentos à poeta e revisora Vera Sarres pela contribuição à revisão do poema

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Retorno ao presente

Amigos, volto hoje a postar no blog Jopinando, cumprindo o leit-motif descrito no seu perfil, como sendo o despertador diário da minha sensibilidade.
Desperto, após um período de hibernação - não sei identificar se criativa ou preguiçosa -, acomodação ou amadurecimento. Prefiro esse último. No entanto, o amadurecimento chega a um ponto em que, se não forem exercidas as conquistas obtidas nesse tempo, corre-se o risco de perdê-las pelo apodrecimento. A natureza nos ensina isso todo o tempo, com as frutas e as flores.
Aproveito o momento para agradecer a sensibilidade e carinho do meu filho João Luis que, com a competência e qualidade, me presenteou com essas novas vestes que embelezam o corpo do blog, e que trazem estímulo, beleza e conforto visual a mim que escrevo e aos meus leitores.
Então, mãos à obra ao inicio da degustação dos frutos brotados nesse tempo.
Marco esse retorno, - por que não chamar de renascimento? – com um poema nascido há algum tempo, mas que, presentemente, renova um misto de compromisso e cumplicidade entre os elementos que me fazem escrever.
Jopin Pereira


Alma de Lápis

Jopin Pereira
02/03/2006

tomo-te em minhas mãos.
imagino-me dentro de ti.
quantas palavras presas nesta grafite!
o que é preciso fazer para libertá-las,
na planície de uma folha de papel?

uma mão?
uma declaração de amor?
uma inspiração?
um amor desfeito que se reconcilia?
uma receita de bolo?

é ... sou como tu.
vejo-me em ti.
tudo ali,
apenas esperando o momento da eclosão.
vamos combinar uma parceria?

juntemos a tua grafite
com a minha emoção,
e vamos dar vida
à nossa missão.

e então?
convidemos o papel.